terça-feira, 25 de junho de 2013

Blade Runner no tempo e no espaço de Los Angeles


Uma pequena homenagem, já que o lançamento do filme foi há exatamente 31 anos atrás. 
Um dos filmes que marcou a minha vida no mundo do cinema.



Sinopse tirada do site AdoroCinema:
No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve um robô que é mais forte e ágil que o ser humano e se equiparando em inteligência. São conhecidos como replicantes e utilizados como escravos na colonização e exploração de outros planetas. Mas, quando um grupo dos robôs mais evoluídos provoca um motim, em uma colônia fora da Terra, este incidente faz os replicantes serem considerados ilegais na Terra, sob pena de morte. A partir de então, policiais de um esquadrão de elite, conhecidos como Blade Runner, têm ordem de atirar para matar em replicantes encontrados na Terra, mas tal ato não é chamado de execução e sim de remoção. Até que, em novembro de 2019, em Los Angeles, quando cinco replicantes chegam à Terra, um ex-Blade Runner (Harrison Ford) é encarregado de caçá-los.

Blade Runner, filme dirigido por Ridley Scott, é baseado na obra O Caçador de Andróides (Do Androids Dream of Electric Sheep?) de Philip K. Dick. O longa é uma ficção científica com várias analogias do mundo real. Seu estilo estético é uma combinação de cyberpunk, noir e cult.

O texto, encontrado no capítulo 18 “O tempo e o espaço no cinema pós-moderno” do livro Condição pós-moderna de David Harvey, deixa evidentes as várias interpretações que podem passar despercebidas pelo telespectador. Ele conta que o filme explora temas importantes e exemplifica características do “pós” moderno e significados do tempo e espaço. Sendo assim, muitas das interpretações do filme são filosóficas, o que pode não atrair o telespectador comum. Por isso, e, também pela estética, que fãs de Blade Runner são bem característicos e apreciadores de bons filmes.

A história de Blade Runner se refere a um grupo de andróides (replicantes), ou seja, seres geneticamente produzidos pelo grupo Tyrell Corporation. Eles foram criados com o único propósito de explorar outros planetas. Lugares em que poderiam trazer riscos ao ser humano. Eles são dotados de poderes, inteligência e sentimentos. Cada replicante tem suas características físicas, psicológicas e habilidades específicas.


















O cenário se passa no ano de 2019 (levando em conta que o filme é de 1982), em Los Angeles. Percebe-se que o lugar está dominado por asiáticos e deduz-se que a China dominou a economia americana. 

Deckard (Harrison Ford) é um caçador de recompensas. Ele é o protagonista no filme e especializado em detectar – através da interrogação – os replicantes; e, se for o caso, “retirá-los de circulação”. É o que acontece quando o pequeno grupo de replicantes volta para Los Angeles a fim de prolongar o seu tempo de duração (que tem em média 4 anos). Para isso, o grupo revoltado com a exploração de trabalho, procurando seus criadores para aumentar o seu tempo de vida, mata seus criadores, inclusive o Tyrell, tornando-se uma ameaça a ordem social. Deckard é o encarregado de matar esses replicantes. O mesmo controle social pode ser observado no filme A.I. – Inteligência Artificial em que os robôs são perseguidos, destruídos, escravizados em um lugar que lembra uma arena de coliseu romano.



Mas não é fácil controlar a ordem social. Os replicantes são mais superiores que os seres humanos. Deckard enfrenta dificuldades em matar os replicantes e mesmo assim foi salvo duas vezes por eles. A primeira vez foi quando Rachel (a mais sofisticada andróide) atira no replicante que tenta matar Deckard. A segunda vez foi inesperada. Já no final do filme, Roy (o líder do pequeno grupo, e mais forte), salva o caçador quando este quase cai de um prédio. É nesse momento que chega o fim a programação de Roy dizendo: “Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva. Hora de morrer”. Logo em seguida, há uma reflexão de Deckard sobre o fato de Roy ter salvo sua vida refletindo: “(...) Tudo o que ele queria eram as mesmas repostas que o resto de nós quer: de onde em vim? Para onde vou? Quanto tempo eu tenho?”

Ao que tudo indica Deckard também é um andróide. Em uma cena com Rachel, aparece o brilho nos seus olhos, assim como acontece com todos os replicantes. A cena é sutil, mas percebe-se que Deckard pode ser um replicante. Em uma outra cena, mostra ele sonhando com um unicórnio, algo irreal ao ser humano. O próprio diretor afirma que “ele é um replicante”. Talvez isso signifique que Roy reconheceu em Deckard uma fraqueza – o medo. E o reconhecimento de vítima dos criadores da Tyrell Corporation.


Rachel é uma replicante sofisticada porque nela contém lembranças e ela própria acredita ser uma humana. Ela tem fotografias de sua infância, que na verdade é a sobrinha de Tyrell. Isso fica evidente quando ela se dirige a Deckard dizendo: “Eu não posso confiar nas minhas memórias. Eu confio em você”. Deckard se envolve com a beleza de Rachel e se apaixona por ela. Este pode ser um ponto em que se pode analisar até que ponto os replicantes irão ter sentimentos tão marcantes quanto para um ser humano. Essa questão lembra um filme chamado O Homem Bicentenário em que um robô desenvolve a vontade de casar com uma mulher, se tornar humano e envelhecer com a sua amada.


Blade Runner também trata de questões ambientais como a chuva constante, chuva ácida, poluição, névoas, lixos por toda parte no cenário de LA. Outra questão de uma conseqüência no futuro é a solidão: o personagem JF Sebastian, um dos criadores dos replicantes, vive sozinho em um prédio com vários brinquedos e bonecos mecânicos que andam e falam. Ainda existe a questão de como seria a população no futuro. O filme mostra que em 2019, a cidade estará um caos de superpopulação com predominância de asiáticos.

Em uma das duas versões do filme Blade Runner, aparece Deckard fugindo com a sua amada Rachel, já que ele foi convocado para matá-la também. A paisagem que aparece durante a fuga é uma “paisagem natural de florestas e montanhas em que o sol, nunca visto em LA, brilha”, segundo a descrição do autor Harvey. Daí a indagação que se pode fazer é: pra onde eles estão indo? Para o passado?



“A luz que brilha duas vezes mais forte se apaga na metade do tempo”
Tyrell – Blade Runner

Escrito originalmente em 01/04/2013

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