sexta-feira, 1 de março de 2013

Brassaï, "O Olho de Paris"



Brassaï registrou Paris de forma irreverente. A noite parisiense exerceu um enorme fascínio sobre ele, que não cansou de fotografá-la.

Artista de origem húngara, Brassaï adotou Paris após a Primeira Guerra Mundial e se transformou em um de seus fotógrafos mais consagrados. Ele, cujo nome de batismo é Gyula Halász, foi membro da elite cultural de Paris, estando Miller, Picasso, Sartre, Camus e Cocteau, entre seus amigos.

Histórico

Nascido como Julius Halasz em 1899, em Brasso, na Transilvânia (parte da Romênia que estava sob o domínio austro-húngaro), Brassaï, pseudônimo que utilizava como estandarte, sonhava com a França, por seu idioma e pela cultura que seu pai, professor de francês na universidade, relatava.

Conheceu Paris quando tinha 4 anos e prometeu voltar para lá para estudar, mas a chegada da primeira Guerra Mundial interrompe o seu sonho. Após servir no exército austro-húngaro, ele, como todos os cidadãos de países inimigos, foram proibidos de morar na França. Em 1921, vai para Budapeste, onde passa a frequentar a Academia de Belas Artes e estuda desenho, pintura e escultura. Não demorou muito para que Brassaï se tornasse popular devido à sua curiosidade e senso de amizade. Entre seus amigos, estavam artistas de vanguarda como Kandinsky, Kokoschka, Moholy-Nagy, além de músicos reconhecidos como Verese e aquele que fora seu melhor amigo, o pintor húngaro Lajos Tihany.

Chega à França em 1924 acreditando que seus talentos serão desenvolvidos em Paris. Para resolver os problemas financeiros, faz charges para jornais franceses e alemães, além de enviar com frequência para revistas húngaras, austríacas ou romenas colunas sobre assuntos como críticas de exposições, análises de concertos, artigos sobre o Salão da Agricultura, entre outros.


Contudo, os redatores-chefes de jornais para os quais Brassaï colabora começam a fazer pedidos para que ele acrescente fotografias às suas crônicas. Então ele começa a pedir aos seus amigos fotógrafos que colaborem com ele antes mesmo que ele enveredasse pela fotografia. As primeiras imagens feitas por Brassaï foram realizadas em 1929, quando o artista percebe que esta mídia permite expressar emoções estéticas que ele não atingiria através da figura. Foi com uma máquina emprestada e, pouco depois, o fotógrafo adquiriu a sua famosa Voightlander, a câmara fotográfica que o acompanharia por muitos anos.

Brassaï então passa a desenvolver um gosto pelo estranho, pelo diferente e pela vida noturna que resultou o livro Paris de Nuit. Lança o livro com suas 64 fotografias em 1932 e logo torna-se uma verdadeira revelação, colocando-o em contato com revistas de arte e publicações de renome internacional. Passa a publicar regularmente no Minotaurem, onde a série sobre as madréporas e as esculturas involuntárias lhe valem a admiração de Salvador Dalí e André Breton. 

Mesmo que sua vida tenha se estirado ao longo de suas publicações, Brassaï tinha consciência da obra imensa que realizou. Henry Miller, que o apelidara de “O olho de Paris”, resumia assim seu amigo: “Bastavam poucas horas ao lado dela para ter a impressão de estar sendo levado para uma grande peneira que guarda um pouco de tudo o que contribui para exaltar a vida”.
Imagem fortemente influenciada pelo envolvimento de Brassaï com o surrealismo

Cigarro desleixadamente entre os lábios, notívago, boêmio, jornalista. Irrequieto, viveu intensamente todas as possibilidades culturais do início do século XX, mas foi como fotógrafo que escreveu seu nome na galeria dos mais influentes artistas de toda a História.

Foi tomando gosto pela arte e fotografava, primeiramente, objetos. Improvisou um darkroom no quarto do hotel onde vivia e começou a “brincar” com a novidade. Já como Brassaï, publicou Paris à Noite, antes de retratar os costumes de uma Paris em declínio e seus personagens – prostitutas, guardas noturnos, bêbados, namorados – o que resultou no trabalho A Paris secreta dos anos 30. Conheceu Pablo Picasso, recebeu convite para fotografar suas esculturas e se envolveu com o movimento surrealista ao colaborar com o jornal Minotaure, com imagens de grafites em muros (A linguagem dos muros).

O húngaro fotografando Picasso…
Somente nos 50 é que o húngaro foi conhecer os Estados Unidos, onde realizou uma série de fotos – coloridas – na Louisiana. Foi nesse período que conheceu dois outros ícones da fotografia: Robert Frank e Walker Evans. Nos anos 60, como reconhecimento ao seu trabalho, “ganhou” uma exposição retrospectiva no Moma nova-iorquino.

Mas nem só de fotografia sua inquietude se ocuparia. Sua versatilidade cultural ainda o permitira incursões no cinema, tapeçaria, grafite, desenhos, esculturas, livros – isso graças aos ambientes frequentados (especialmente o bairro de Montparnasse), onde conheceu e se cercou de muitos artistas das mais diversificadas áreas, da fotografia à literatura. Um artista antenado com os movimentos contemporâneos a ele, que, seguramente, se fosse ainda vivo – Brassaï morreu em Nice, no ano de 1984 – estaria conectado com todas as novas linguagens de expressão que o século XXI nos oferece. Um verdadeiro multimídia.


…e Dali (com Gala), com direito a sua imagem refletida

Com o fotógrafo, é possível perambular por Montparnasse, Les Halles, pelo canal de L’Ourcq, canal Saint-Martin, Place d’Italie, Belleville. Penetrar nos cafés e conhecer de perto figuras pitorescas da noite parisiense. Observar a solidão de prostitutas que esperam por clientes sozinhas nas ruas. Conhecer ângulos inusitados da bela cidade, descobrindo o traçado artístico presente até em tampas de bueiros. Brassaï transcende o real com tons surrealistas. Revela aos observadores uma Paris até então desconhecida, desprezada. Dá visibilidade a senhoritas de vida fácil, jovens delinqüentes, trabalhadores noturnos. Privilegia lugares até o momento ignorados pela sociedade, como a casa da Madame Suzy, com seus ritos, grandes figuras e o perfume de proibição, bares freqüentados por transexuais, cafés que recebem intelectuais e artistas e muito mais.

Brassaï escreveu 17 livros e numerosos artigos, incluindo Histoire de Marie, que tem introdução de seu grande amigo, Henry Miller, e Conversas com Picasso (1965), outro grande amigo, livro que foi traduzido para 12 idiomas. Brassaï abandona a fotografia em 1961, depois da morte de Carmel Snow, editor da revista Harper's Bazaar. Em 1970, recebeu o prêmio nacional da França por sua contribuição artística e especialmente por sua fotografia. Faleceu em 1984, em Nice, na França.

Para ler:


Um comentário:

Unknown disse...

Oiiie linda, td bem?? :)
Te indiquei uma tag lá no meu blog http://www.foradarealidadeonline.blogspot.com.br/2013/03/tag-as-5-melhores-capas-da-sua-estante.html !!!

Beijos.